Frequento o abismo.

Daqui tenho a mais bela vista para o denso vale do torpor.

A minha angústia chega a ser tão sublime que reluz por entre as sombras do imaginário

das palavras abafadas

do calor do corpo distante. Daquilo que perdi e nem sei mais o que foi.

Mas que faz falta.

Sombra ausente que sobre mim recai.

Assento-me sobre os escombros da alma cortada.

Estrutura do espaço

 que escoa para onde todas as dimensões do inconsciente desaguam.

Sou criatura e criadora do mito da minha existência.

Causa e efeito.

Ainda assim confesso: sei que é a ignorância da verdade que me edifica.

Saco de ar, sustentando uma realidade invisível.

Abandono a fantasia e rendo-me à ânsia da mais bruta das delicadezas. Pluma que sofre para reduzir a enormidade deste vazio.

Há um outro em mim que sou eu mesma.

Num esforço último
agarro-me à borda da escrita
concebida na frescura de cal do nada da penumbra.

E ouço a voz silenciosa que não mais parte do vazio mas que ecoa adiante.

Reflexo de uma coisa que pergunta.