Levei três dias para me recompor. Bem sei que o que disseste foi com a naturalidade de uma informação trivial. E, apesar de saber disso, ainda assim, fiquei em choque quando li:

vou para a casa da minha madrasta.”

Um soco na barriga.

Senti-lo através do frio que se apossou das minhas entranhas causou-me desconforto. Entretanto, ao contrário do que acontece quando se está entre desconhecidos, sabia bem de onde esta palidez emocional vinha.

Eu e o teu pai partilhávamos um lugar onde planeávamos a nossa vida em família. Uma das coisas que ainda lá está é fazer um brunch contigo. Cozinhar, mesmo. Meter a mão no monte de farinha com ovo para fazer um pão e chamar de nosso. Ter estes momentos de intimidade e sujeira, traquinices de miúdas porque desde que entramos juntas na piscina, tu com o teu fatinho amarelo e uns brilhantes olhos de 4 anos, tu passaste a ser para mim, minha.

Nestes três dias, pensei se era ciúme, rejeição ou só saudades do que poderíamos ter sido. Eu não sei ainda o que é, talvez um pouco de cada uma destas coisas, confesso. O que sei é que não sou a tua madrasta. Também não sou tua amiga. Nem familiar. Não sei que título tenho na tua vida e sequer pensar nisso, ter um lugar na tua vida, é algo bom para mim e para ti. Digo isso porque és importante para mim.

Se precisar de motivos…porque…acompanhei-te em vários momentos da tua vida? Porque sabia dos teus pesadelos? Porque tens uma forma única que eu adoro de pronunciar o meu nome? Porque temos estado em contato ao longo de 10 anos e isto tem algum significado? Acho que não preciso de ter uma resposta exata.

No que aos sentimentos toca, não precisamos de certezas. Ao que à razão diz respeito, a única que tenho é que, não importa o título, serás sempre

a minha menina.