Quando me falaste dela, não pude deixar de pensar que talvez fosse apenas mais um desses amores instantâneos. Amores que explodem como fogos de artifício numa noite molhada, ruído demais e luz de menos.
Levou tempo, mais tempo do que eu esperava, até que lhe tocasses as mãos. E ainda mais até que o primeiro beijo, casual, na bochecha, acontecesse.
Para alguns, um relacionamento começa no momento em que os lábios se encontram, como se esse gesto fosse a senha de acesso a um universo de paixão e desejo.
Mas não foi assim, não para ti.
Moveste-te com uma cadência diferente, desacelerando o ritmo vertiginoso dos teus pensamentos, permitindo-te uma espera atenta e deliberada pelo que poderia vir a seguir.
Quando penso em vocês, vejo o que significa a entrega da confiança. Lembro-me de Camões, “ter com quem nos mata lealdade”.
Mas como tudo, também este é um exercício onde podes escolher os elementos com os quais vais formar camadas, como quem escolhe a estrutura de uma casa. Um lar construído de momentos, não de tijolos. De memórias que vocês criaram juntos, dos planos partilhados, das conversas que foram mais verdadeiras do que tudo o resto.
No centro, a intimidade. Não aquela que se limita ao físico, mas a outra, a que realmente importa. A intimidade que se revela nos momentos de maior vulnerabilidade.
É quando confessas os medos que guardas no escuro, as inseguranças que preferirias manter para ti, que a verdadeira conexão acontece. Quando partilhas as feridas antigas, os traumas, a dor que carrega o teu passado, e recebes de volta não julgamento, mas empatia.
A intimidade é essa troca silenciosa, onde revelas as fissuras da tua alma e, em vez de mais dor, encontras um gesto de carinho. No fim, não são as palavras que importam, mas o silêncio que se cria, o espaço onde ambos se permitem simplesmente ser, sem máscaras, sem pressas.
E é aí que se encontra o verdadeiro lar — não num lugar, mas no outro.